HERÓI, MÁRTIR OU COVARDE 

HERÓI, MÁRTIR OU COVARDE

Ernesto Caruso, 17/01/2006


Chamá-lo de covarde é o ápice da covardia, pois que não mais tem condição de defender a sua honra pela ausência, por não ouvir, nem ler e, por não tomar conhecimento via terceiros dos que contam e aumentam um ponto. Comentários maldosos lhe assacaram, desrespeitando a dor dos seus familiares, quem sabe, da mãe se viva, condoída pela brutal perda do ente que gerou, do pai, irmãos, esposa e filhos, pela velocidade da notícia incompleta, violenta, que como furacão arrasa um sonho, uma realidade, uma vida.
Não foi um covarde diante de uma ameaça de combate, não fugiu, não estava entocado, acuado, sem saída; confiante, seguro, sem uma guarda especial, talvez triste, abismado, impotente para resolver os problemas da miséria, dos conflitos, da falta de perspectivas, de oportunidades dadas a um povo desprovido de tudo, por culpa dos políticos locais e do mundo explorador, que não encontra uma solução para a fome; se locupletam nos banquetes e enchem as bocas com palavras, alimentos da consciência “pura” e olhos fechados. Mais triste ainda, por ver seus soldados envolvidos em uma luta pela sobrevivência, onde prevalece a lei do mais forte, do mais bem armado, do bando organizado.
Um sinal de alerta e um ensinamento para os políticos brasileiros: da miséria e da fome de milhões a desordem provém e a lei não contém. É regra no reino animal.
Mártir pode ter sido. Alvo de grupos internacionais, nacionais no meio, insatisfação de facções do próprio Haiti com a presença de tropa estrangeira a dificultar-lhes as ações de domínio local, enfim conspiração, na cabeça de muitos, inexistente no pensamento de outros, para atingir, desqualificar a força militar brasileira como parte do processo de enfraquecimento do Estado, que assusta por seu potencial.
Não podemos nos iludir quanto a todas essas hipóteses, desde o narcotráfico, mais convincente, até as teias disseminadas pelo mundo, dos corsários de inspiração governamental, da espionagem, da propina envolvendo primeiros-ministros, príncipes consortes e dos misteriosos e insolúveis crimes e “suicídios”. No mundo do crime se mata com muita facilidade pelo poder, dinheiro, vingança e ambição.
Herói. Fico com essa visão do militar de valor que um dia combateu, experimentou e venceu o medo do desconhecido, trilhou a selva sem saber onde o inimigo o espreitava, o vigiava, aguardando a melhor oportunidade de alvejá-lo e a sua gente fardada. Floresta que a muitos assusta, pelas armadilhas que a natureza criou, tropeços, calor insuportável, animais peçonhentos, malária, leishmaniose, confrontando e derrotando o guerrilheiro treinado no exterior Por esse passado de valoroso combatente recebeu essa missão — por ironia do destino — de PAZ.
Era pára-quedista, precursor-pára-quedista, mestre de salto e formado em salto livre, considerado exímio atirador e que segundo depoimentos de quem esteve com ele antes do infausto acontecimento, não dava mostras de depressão ou descontentamento que pudessem conduzi-lo ao ato extremo e que acima de tudo considerava o Comando da Força de Paz na MINUSTAH (Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haiti) como importante para o Brasil, a quem tanto se devotou, e honrado pelo elevado cargo a serviço da solidariedade com o país irmão.
Ao mártir-herói General Urano Teixeira da Matta Bacellar a nossa continência, silêncio e flores.
Descanse em paz.

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Comment Senhores Vejam as últimas pesquisas ibope! vão permitir que esse desqualificado, usando de verbas públicas convença aos miseráveis desse país que é um inocente? Não está mínimamente suportável a situação política brasileira. Alguém tem que fazer algo, e urgentemente.

Fri Jan 20, 2006 6:13 am MST by Analu

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