O PLANO D 

O PLANO D

Independentemente do tipo de análise que se faça sobre a situação política da América do Sul, um fato é inconteste: o socialismo avança a passos largos. Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia e Chile estão aí para comprovar a tese.

Sem menosprezar a "revolução bolivariana" de Hugo Chávez ou a eterna influência de Fidel Castro, é lícito supor que o Brasil seja o pêndulo maior dos sonhos dos socialistas de todos os matizes. Para onde pender o país-continente, tenderá a se inclinar a política sul-americana.

Após quase doze anos no poder (oito com FHC e quatro com Lula), a esquerda brasileira conseguiu montar um forte sustentáculo político-ideológico que, se não é suficiente para eternizá-la no poder, garante-lhe base suficiente para que possa disputar qualquer eleição com boas chances de vitória. Para se ter uma idéia da componente psicológica que há hoje em dia, basta contar quantos políticos de expressão se auto-intitulam "de direita" ou mesmo de "centro-direita". A maioria é de esquerda, ou de "esquerda liberal" ou de "centro-esquerda". No máximo, alguns poucos assumem ser "de centro" apenas, pois isso é encarado pejorativamente como "estar em cima do muro". Desnecessário dizer que, para boa parte da população, "direita" virou palavrão, sendo associada à "ditadura militar", ao nazismo ou ao americanismo. A lavagem cerebral foi tão forte que mesmo alguns dos ultra-nacionalistas mais radicais já admitem se associar à esquerda, particularmente quando acreditam que o nosso maior inimigo potencial são os rapazes do Tio Sam.

Foi nesse contexto que os brasileiros adormeceram por mais de dez anos, acreditando que a esquerda e seus socialistas levariam o País ao paraíso prometido.

Somente após o estrondo de uma mega crise de corrupção sem precedentes foi que uma significativa parcela da população mais esclarecida - inclusive alguns jornalistas de maior projeção - finalmente se deu conta dos verdadeiros rumos ideológicos para onde estamos caminhando.

Com a perda do caráter ilibado e da crença que o partido se constituía no guardião da ética, da honestidade e da moralidade, o PT levou sua primeira surra histórica pós 2002 na votação da questão do "desarmamento". O somatório desse resultado com o das primeiras pesquisas de intenção de voto para presidente e para o governo de alguns Estados e com o aparecimento de "terceiras vias" preocupantes, como o Governador do RS Germano Rigotto, acendeu a luz amarela no QG da inteligentzia socialista.

Lula é o candidato prioritário e natural à reeleição, não há dúvida, pois tem carisma e história política para agregar a esquerda de quase todos os matizes, alem de ser o preferido dos donos do capital (nacional e internacional), da "revolução bolivariana", de Fidel Castro e de todos os que sonham com o Brasil na liderança do neo-socialismo sul-americano. Porém, há a questão do Foro de São Paulo, onde a manutenção da esquerda no poder é mais importante do que qualquer nome que a componha. Assim, se Lula tiver que se sacrificar (ou ser sacrificado) em prol de um "bem maior", é muito provável que a esquerda coloque em ação o plano B ou, no caso, o plano D.

Quando o jornalista Ricardo Noblat publicou que: "Se Lula quiser dar um nó na escolha do seu sucessor só tem um caminho: desistir da reeleição e apoiar outro candidato — Ciro Gomes, talvez. Aí, sim, o jogo zera e o resultado se torna imprevisível", o também jornalista Chico Bruno assim analisou a possibilidade de uma candidatura alternativa dentro do PT: "Ao bater duro em Palocci, Dilma reuniu em torno dela o PT, a CUT, o MST, o PMDB governista (que odeia Palocci), o vice-presidente José Alencar, e colocou a oposição em uma saia justa, pois PSDB/PFL são os maiores defensores de Palocci por motivos óbvios (continuidade da política econômica neoliberal). A ação de Dilma conta com o apoio de Lula, que a testa como alternativa. Segundo Lula, Dilma é um quadro com passado limpo e uma opção inédita; seria a primeira mulher a disputar a Presidência da República. A Dilma Rousseff, apesar de nova no PT, tem apenas dois ou três anos de sigla, é um quadro respeitado pelos companheiros e testado no executivo gaúcho e federal, uma economista competente e capaz para o trabalho que o cargo requer. Aliás, está na moda internacional a ascensão de mulheres ao poder. A Alemanha e o Chile são exemplos recentes. O perfil de Dilma se assemelha ao da dama de ferro inglesa".

Em 18 de dezembro de 2005, Ricardo Noblat publicou outra nota: Olha a Dilma aí! Lula bateu um longo papo na última sexta-feira com alguns deputados pernambucanos durante vôo presidencial entre Brasília e Recife para lançamento da pedra fundamental da refinaria de petróleo Abreu e Lima. No avião estava também, além de deputados, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa. Papo vai, papo vem, os parlamentares perguntaram a Lula sobre as eleições de 2006, informa Leandro Colon. Como sempre, ele disse que ainda não definiu se será candidato. - Mas se o senhor não sair, quem seria um bom nome?" E os deputados ouviram: - Dilma Roussef. Lula a elogiou. Disse que, além de uma ótima ministra, seria uma candidata mulher. Algo diferente na disputa presidencial. E os deputados reagiram com espanto e surpresa. Dilma realmente virou a queridinha do presidente. Só dá ela no Palácio".

O mar de lama do mensalão (e dos escândalos periféricos) passou longe da hoje poderosa Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Vana Rousseff. Além de inatacável, é mulher, discreta, educada, gentil, reconhecidamente competente, dura negociadora, fina articuladora política, tem o "charme" de ter sido guerrilheira, não é prepotente, é fiel a Lula e é... petista!

O palco apropriado para este cenário já está sendo montado: liberações milionárias de verbas, quedas nos juros básicos, quitação com o FMI, operação "tapa-buracos", possível saída de Palocci do governo, pronunciamentos do presidente à Nação... Tudo parece depender agora das próximas pesquisas de intenção de voto e de mais alguns desdobramentos do mensalão. Caso surja mais lama comprometedora ou a possibilidade concreta de uma terceira via fora da esquerda, bastará, então, que Lula arme um cenário onde se declare "cansado de ser atacado injustamente" , ou que "dará chance para que, pela primeira vez na história, uma mulher governe o Brasil", ou qualquer outro pano-de-fundo que seja atraente e simpático àqueles que o elegeram em 2002, para que, nas próximas eleições, transfiram esses votos para alguém que possa capitalizá-los e que seja da confiança de Lula e do PT, em primeiro lugar, e da esquerda, em qualquer caso.
E, por enquanto, quem melhor que a senhora Dilma Vana Rousseff para viabilizar o Plano B, ou melhor, o Plano D? Agora, ou em 2010...


Araújo

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